segunda-feira, 3 de março de 2014

"Se a palavra submissa incomoda, queimai a Bíblia”


Cid Alencastro 
Revista Catolicismo, Nº 757, janeiro/2013


A jornalista italiana Costanza Miriano [foto], que trabalha na RAI (Rádio e TV italiana, estatal), gerou uma grande polêmica com a publicação de seu corajoso livro "Casa e sê submissa" (Sposati e sii sottomessa) [foto abaixo], um best-seller na Itália, já traduzido na Espanha por iniciativa da Arquidiocese de Granada. 


Neste último país, em apenas uma semana, o livro foi objeto de uma polêmica que chegou ao Congresso. A esquerda estremeceu. O Partido Socialista (PSOE) pediu ao governo que tome medidas para evitar que a obra faça“apología do machismo”.Furiosa, a deputada socialista Carmen Montón diz que o livro“não contribui para a luta contra a violência de gênero, pois joga lenha ao fogo da violência machista”.

Também a Esquerda Unida (IU) reagiu, pedindo à Promotoria de Granada que intervenha contra a edição e a venda da obra, com base no delito de“apologia da violência contra as mulheres”.

A autora, 42 anos, mãe de quatro filhos, residente em Roma, diz que sua fonte de inspiração é o Apóstolo São Paulo e apresenta citações recolhidas na Bíblia. Por isso, mostra-se surpresa com toda essa polêmica. Em entrevista ao jornal espanhol “El País” (17-11-13), afirma: 
“Estou consternada por imaginar que podem censurar o livro, que contém ideias que a Igreja proclama ao mundo desde sempre. De início imprimi apenas 1.200 copias. Telefonei para minha família com a esperança de que pelo menos comprassem uma meia dúzia. Mas depois o livro teve muitas edições, mais de vinte, creio”. 

O entrevistador diz que o livro está sendo acusado de defender a violência contra as mulheres. Constanza responde:

“Em que ponto exato eu exorto, defendo, desculpo, justifico ou menciono a violência, mesmo remotamente? Em que momento digo algo disso? Onde? Com que palavras? A única violência que vejo em tudo isto é a que estão fazendo contra mim, que também sou mulher. Uma agressão indignante. Não se pode lançar acusações ao ar. 

“Não escrevi um tratado de sociologia. Olhei para a minha realidade e a de meus amigos, e nossos problemas são como ser feliz com nossos maridos, como amar melhor, como cuidar deles e como pedir que cuidem de nós, como manter unidos todos os papéis que tem uma mulher moderna: mulher, mãe, trabalhadora, mulher de fé que cultiva o espírito, mas que também aprecia cuidar de seu corpo. Quem imaginaria que meus escritos iriam ser lidos por 50.000 pessoas na Itália e no Exterior? 

“Cristo morreu por sua esposa, a Igreja. Um homem que segue os mandamentos é um homem disposto a morrer por sua esposa. A esposa, segundo a Igreja, é uma esposa dócil face a um homem dócil, generoso. É a lógica cristã”.

O entrevistador insiste na questão da suposta violência. 

“Se o que incomoda é a palavra submissa, então queimai todas as cópias da Bíblia. Nesse caso, será para mim uma honra ir para a fogueira”.

Constanza se refere aqui à seguinte exortação do Apóstolo São Paulo: “As mulheres sejam submissas a seus maridos, como ao Senhor [...] Ora, assim como a Igreja é submissa a Cristo, assim também o sejam em tudo as mulheres a seus maridos. Maridos, amai as vossas mulheres, como Cristo amou a Igreja e se entregou por ela” (Ef 5, 22-25). 

Encerra a autora:“Como a Igreja, eu recuso a palavra gênero. Creio que há dois sexos, não gêneros. Ademais, eu rechaço a violência. Basta-me o quinto mandamento: ‘Não matarás’. Isso significa não matar as crianças (inclusive dentro do útero, porque a violência aí se dá em evidente desproporção entre a vítima e o verdugo), não matar mulheres, não matar homens”.


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