sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Alocução de Pio XII sobre as famílias numerosas

No dia 20 de janeiro de 1958, o Papa Pio XII dirigiu a palavra a um grupo de dirigentes e membros da Federação Nacional (italiana) das Associações de Famílias Numerosas.
Colocaremos aqui alguns trechos e não poderíamos deixar de mencionar que, ao contrário do que ouvimos a respeito das famílias numerosas nos últimos dias, essa alocução de Pio XII nos consola, nos encoraja e não deixa de ser uma resposta sábia e com certeza, inspirada pelo Espírito Santo.


Entre as aberrações mais prejudiciais da moder­na sociedade pagã, deve-se destacar a opinião de al­guns que ousam definir a fecundidade dos casamen­tos como uma “doença social” que os países por ela atingidos deveriam esforçar-se para banir de todos os modos. Daí a propaganda daquilo que se designa co­mo “controle racional dos nascimentos”, sustentado por pessoas e entidades às vezes ilustres por outros títulos, mas infelizmente condenáveis por este.

As famílias numerosas, longe de serem “doença social”, são a garantia da saúde física e moral de um povo. Nos lares em que sempre há um berço de onde se ouvem vagidos, as virtudes florescem espontaneamente, enquanto o vício se afasta como que ex­pulso pela infância, que aí se renova qual brisa fresca e vivificante da primavera.


- Que os pusilânimes e egoístas sigam pois o vosso exemplo; que a pátria vos seja grata e tenha predile­ção por vós, por tantos sacrifícios que assumis crian­do e educando seus cidadãos; do mesmo modo a Igre­ja vos deve gratidão, pois, graças a vós e convosco, pode apresentar à ação santificadora do Espírito San­to multidões de almas cada vez mais sãs e numerosas.

- Exteriormente também uma família numerosa bem ordenada é qual um santuário visível: o sacramento do Batismo não é para ela um acontecimento excepcio­nal, mas renova muitas vezes a alegria e a graça do Senhor. Ainda não se encerraram as festivas peregri­nações às fontes batismais e já começam, resplande­centes de igual candura, as das crismas e primeiras comunhões. Mal o caçulinha tirou sua pequena veste branca, conservada como a mais cara lembrança de sua vida, e eis que já aparece o primeiro véu nupcial, que reúne aos pés do altar pais, filhos e novos pais. Como primaveras renovadas, suceder-se-ão outros ca­samentos, outros batizados, outras primeiras comunhões, perpetuando por assim dizer, no lar, as visitas de Deus e de sua graça.

- Mas Deus também vem às famílias numerosas com a sua Providência, da qual os pais, principalmente os pobres, dão um testemunho evidente, nela colocando toda a sua confiança, quando não são suficientes os meios humanos. Confiança bem fundada e de modo algum vã! A Providência — para nos exprimirmos com conceitos e palavras humanas — não é propriamente o conjunto de atos excepcionais da clemência di­vina, mas o resultado normal da ação harmoniosa da sa­bedoria, bondade e onipotência infinita do Criador. Deus não recusa meios de viver àquele que traz à vida. O divino Mestre ensinou explicitamente que “a vida vale mais que o alimento e o corpo mais que a veste” (Cf. Mt 6,25). Se fatos isolados, pequenos e grandes, pare­cem às vezes provocar o contrário, é sinal de que al­gum obstáculo foi interposto pelo homem à execução da ordem divina, ou então, em casos excepcionais, que preva­lecem desígnios superiores de bondade; mas a Providên­cia é uma realidade, uma necessidade de Deus Criador.


- O excesso de população não é, pois, uma razão plausível para di­fundir os métodos ilícitos do controle dos nascimen­tos, mas antes pretexto para legitimar a avareza e o egoísmo, seja das nações que, da expansão de ou­tras temem um perigo para sua própria hegemonia política e abaixamento do nível de vida, seja dos indi­víduos especialmente dos mais bem providos de meios de fortuna, que preferem o mais amplo gozo dos bens da terra à honra e ao mérito de suscitar novas vidas. Chegam desse modo a violar as leis acertadas do Cria­dor, sob o pretexto de corrigir os erros imaginários de sua Providência.

- Quanto a vós, pais e filhos de famílias numerosas, continuai a dar com firmeza serena o vosso testemunho da confiança na Providência divina, certos de que ela não deixará de recompensá-los pela prova de sua as­sistência cotidiana e, se for necessário, por inter­venções extraordinárias de que muitos dentre vós tendes a feliz experiência.

E agora, algumas considerações sobre o ter­ceiro testemunho, a fim de apaziguar os inquietos e aumentar vossa coragem.


As famílias numerosas são os mais belos ramalhetes do jardim da Igreja; nelas, como em terreno propí­cio, floresce a alegria e amadurece a santidade.


- Sobre a fronte desses pais e mães, mesmo quando carregada de cuidados, não há traço dessa sombra in­terior reveladora de inquietações de consciência ou do temor de uma irreparável volta à solidão. Sua juven­tude parece nunca ter fim enquanto dura no lar o perfume dos berços, enquanto nas paredes da casa ressoam as vozes argentinas dos filhos e dos netos. As fadigas multiplicadas, os sacrifícios redobrados e as renúncias às distrações dispendiosas são largamente re­compensadas, mesmo aqui na terra, pelo mundo ines­gotável de afetos e de doces esperanças que lhes in­vadem o coração, sem todavia oprimi-lo ou cansá-lo.

E as esperanças se transformam em breve em realidade, quando a filha mais velha já começa a aju­dar a mãe a cuidar do mais novo; quando o filho mais velho volta para casa radiante, pela primeira vez, com seu primeiro salário. Esse dia entre todos será abençoado de modo especial pelos pais, que vêem para sempre afastado o espectro de uma velhice miserável, e sentem a segurança da recompensa de seus sacrifícios. Os filhos numerosos, por sua vez, ignoram a solidão e o mal-estar de serem obrigados a viver no meio de adultos. É verdade que essa companhia numerosa pode às vezes transformar-se numa vivacida­de fastidiosa e suas desavenças, em tempestades passageiras; mas quando estas são superficiais e de curta duração, concorrem eficazmente para a formação do caráter. Os filhos das famílias numerosas se educam por assim dizer por si mesmos na vigilância e na responsabilidade de seus atos, no respeito e no auxílio mútuo, na largueza do espírito e na generosidade. A família é para eles um pequeno mundo de experiên­cias antes de enfrentarem o mundo exterior, mais árduo e mais constrangedor.

- Todos esses bens e todos esses valores ganham em consistência, intensidade e fecundidade quando a família numerosa coloca, como seu fundamento e re­gra, o espírito sobrenatural do Evangelho, que tudo eleva acima do humano e tudo perpetua. Nesses ca­sos, aos dons comuns de providência, de paz, de ale­gria, Deus acrescenta muitas vezes, como a experiên­cia o demonstra, os chamados de predileção, isto é, as vocações ao sacerdócio, à perfeição religiosa e à própria santidade. Mais de uma vez, e não sem razão, salientou-se a prerrogativa das famílias numerosas co­mo viveiros de santos. Citam-se, entre outras, a de São Luís, rei da França, composta de dez filhos; a de Santa Catarina de Sena, de vinte e cinco; a de São Roberto Bellarmino, de doze; a de São Pio X, de dez. Toda vocação é um segredo da Providência; mas no que diz respeito aos pais, esses fatos permitem concluir que o número de filhos não impede sua exce­lente e perfeita educação; que o número, nesse assunto, não traz desvantagem para a qualidade no que se re­fere aos valores tanto físicos como espirituais.

Invocando a proteção divina para as vossas fa­mílias (e para as de toda a Itália) e colocando-as ainda uma vez sob a égide celestial da Sagrada Família de Jesus, Maria e José, de todo o coração Nós vos con­cedemos a Nossa paternal Bênção Apostólica.

Alocução de Pio XII sobre famílias numerosas completa aqui

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