"O inferno passou por Valparaíso!", exclama a chilena Mónica Vergara, sentada na porta de sua casa, reduzida a escombros pelo enorme incêndio que destruiu cerca de 1000 casas e matou ao menos 11 pessoas no Chile entre sábado e domingo.
Uma densa camada de fumaça e chuva de cinzas caía sobre o porto de Valparaíso, um dia depois do início do incêndio, que levou medo e destruição à vida de milhares de pessoas que voltaram a seus lares para comprovar que haviam perdido tudo.
O retorno não foi fácil. Depois de passar a noite em albergues ou barracas, os moradores tiveram que se esforçar para escalar as ruas íngremes das colinas atingidas pelo fogo.
Mariposa e La Cruz, dois dos morros mais pobres da Valparaíso, foram os mais afetados pelas chamas. Bombeiros, policiais e militares ainda trabalhavam, na manhã deste domingo, para resguardar a segurança das pessoas.
"O fogo veio do céu, entrou nas casas em questão de segundos, foi terrível. Houve explosões por toda a noite, botijões de gás, e sabe-se lá mais o que, tivemos muito medo", contou à AFP Claudia Valladares, moradora de Mariposas, que teve estragos menores em sua casa.
- Sem casa e sem recordações -
Em La Cruz, centenas de pessoas choravam na porta de seus lares, destruídos.
"Perdi tudo, um bombeiro me salvou e a meus filhos, mas perdi tudo", afirmou à AFP Mónica Vergara, que havia voltado ao Chile da Espanha há apenas seis meses, devido à crise econômica na Europa.
Ela e os filhos observavam o que restou de sua antiga residência: uma parede, parte do teto e alguns pedaços de metal ainda incandescentes. Os demais pertences viraram cinzas.
"O que mais dói são as recordações, perdi tudo nesse inferno que passou por Valparaíso", destacou a mulher, de 47 anos.
Ao redor dali, diversas outras famílias vasculhavam os escombros, em meio a um forte cheiro de madeira queimada.
- Solidariedade da população-
O incêndio afetou ao menos seis das 44 colinas que fazem parte de Valparaíso, o porto chileno caracterizado por elevadores centenários, mirantes marcantes e construções antigas, que levaram a cidade a ser declarada Patrimônio Cultural da Humanidade pela Unesco.
O resto da população - são 270.000 habitantes - que não foi afetada se organizou para ajudar os mais de 10.000 em necessidade.
Carros buzinavam para indicar os lugares que distribuíam comida, roupa e todo tipo de ajuda para quem estava desabrigado.
Além disso, dezenas de jovens, equipados com pás e ancinhos, subiam os morros para ajudar os moradores.
"Isto não é solidariedade, é ajudar um compatriota, é evitar que o fogo siga atingindo nossa cidade", explicou Carlos, um dos voluntários.
Equipes de bombeiros continuavam combatendo focos de incêndio, sob o risco de as altas temperaturas e os fortes ventos reanimarem o fogo.
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