domingo, 5 de maio de 2013

"Tenha a opção sexual que tiver, a Igreja deve acolher"

08-março-2013 _ Entrevista dada a IstoÉ


Arcebispo do Rio de Janeiro diz que os católicos devem aceitar os gays e explica por que seu colega de São Paulo, dom Odilo Scherer, tem as características necessárias para se tornar o próximo papa






Durante essa entrevista à ISTOÉ, dom Orani teclou várias vezes em seu iPhone. Recentemente, abençoou blocos carnavalescos, uma heresia para muitos religiosos, católicos ou não. O arcebispo também mantém página no Facebook e acha que a internet pode ser uma aliada no processo de evangelização. Com esse perfil flexível, é o anfitrião certo para liderar um encontro que deverá reunir mais de dois milhões de pessoas, a maioria jovem, no Rio. Dom Orani nega que Bento XVI, que estabeleceu “tolerância zero” com a pedofilia, tenha renunciado por questões polêmicas, como os escândalos sexuais.

ISTOÉ -
O sr. é a favor da união civil ou do casamento entre  pessoas do mesmo sexo?

DOM ORANI TEMPESTA -
São coisas diferentes. Uma coisa é a família, o casamento, que tem a ver com a natureza
humana. Outra coisa são essas uniões, que envolvem direitos civis, de herança, 
por exemplo.

A gente não entra nessa história. Eu creio que essas questões começaram a surgir
por falta de respeito ao outro, perseguições e mortes. Não podemos ter um mundo 
intolerante dessa forma, nem de um lado nem de outro. 

O outro tem sua liberdade de opção, sabendo até que eu não posso concordar com ele.

ISTOÉ -
Um homossexual é bem recebido na Igreja?


DOM ORANI TEMPESTA -
A Igreja é a que mais procura respeitar as pessoas, acolher e ajudar nos conflitos que cada um possa ter no coração. 
Tenha a opção sexual que tiver, a Igreja deve acolher. 
Porque Cristo quando veio foi a todos e falou com todo mundo. 
Ninguém está sendo expulso da Igreja por uma coisa ou outra.




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O que vocês leram acima é um posicionamento em cima do muro. Para se adaptar ao gosto mundo, fruto do Concílio Vaticano II.
Lembremos do saudoso e Santo PAPA conhecido como "papa da certeza" - fonte: Revista Veja, 6 de abril de 2005.








[...]


Como "papa da certeza", João Paulo II não fez concessões que buscassem adaptar de algum modo o catolicismo ao mundo moderno. Rigoroso como a maior parte do clero polonês, ele acentuou seu fervor dogmático e lançou-se com fôlego redobrado em sua cruzada contra o aborto, a contracepção artificial, a dissolução do casamento, o consumismo. 


Os vaticanistas são unânimes em afirmar que o marco inicial da segunda fase do seu pontificado, em que os temas morais adquiriram mais importância do que os ideológicos, é a encíclicaVeritatis Splendor ("O Esplendor da Verdade"), publicada em 1993, cuja confecção demorou seis anos e contou com a participação de uma centena de prelados e teólogos.


Considerada o documento mais denso de João Paulo II, a encíclica é uma resposta ao que o papa acreditava ser a crise moral do Ocidente. O pressuposto de Veritatis Splendor está sintetizado no seguinte parágrafo: "Formou-se uma nova situação dentro da própria comunidade cristã, que experimentou a difusão de múltiplas dúvidas e objeções de ordem humana e psicológica, social e cultural, religiosa e até mesmo teológica, a propósito dos ensinamentos morais da Igreja. 


Não se trata já de contestações parciais e ocasionais, mas de uma discussão global e sistemática do patrimônio moral, baseada sobre determinadas concepções antropológicas e éticas. Na sua raiz, está a influência, mais ou menos velada, de correntes de pensamento que acabam por desarraigar a liberdade humana da sua relação essencial e constitutiva com a verdade".

Há estudiosos que acreditam que a pregação de João Paulo II em favor de valores imunes ao relativismo e à história representa um empobrecimento do ponto de vista teológico. Quase um retrocesso ao período anterior a João XXIII. O fato concreto, no entanto, é que essa intransigência lhe permitiu mudar o foco de sua atuação no cenário mundial. 

O argumento moral serviu, entre outras coisas, para que o papa vitorioso no embate contra o comunismo se transformasse em crítico incansável dos rumos do sistema capitalista. 



No campo do comportamento, uma das batalhas mais árduas de João Paulo II se deu em 1994, na Conferência das Nações Unidas sobre População e Desenvolvimento, realizada no Cairo, Egito. Dez anos antes, num evento similar organizado na Cidade do México, a Igreja contara com o apoio de Ronald Reagan para impedir que a ONU se engajasse decisivamente em projetos de contracepção artificial nos países subdesenvolvidos


Mas o contexto mudara muito desde então. O papa fora avisado pela Secretaria de Estado do Vaticano de que era certo que a conferência aprovaria não só um programa de distribuição de pílulas e camisinhas no Terceiro Mundo, como também recomendaria a legalização do aborto onde a prática não era permitida. "O papa considerava isso intolerável. Ele desconfiava que os Estados Unidos e um lobby feminista americano queriam impor estilos de vida sexual do Ocidente aos países em desenvolvimento. 


Numa carta às famílias do mundo inteiro, escrita algumas semanas antes, ele tinha definido as linhas de batalha: de um lado, a civilização da vida e do amor, defendida pela Igreja, e, do outro, uma anticivilização destrutiva, permeada de utilitarismo, com uma educação sexual irresponsável, aborto por encomenda, propaganda em favor do amor livre e uniões homossexuais, seguindo uma tendência que era perigosa para o futuro da família e da sociedade", sintetizam Carl Bernstein e Marco Politi, no livro Sua Santidade – João Paulo II e a História Oculta de Nosso Tempo.



Furioso com a situação desfavorável, João Paulo II deu uma pequena pausa na elaboração da encíclica Evangelium Vitae, em que tratava justamente desses temas, para receber a visita da paquistanesa Nafis Sadik, diretora executiva das Nações Unidas para População e Desenvolvimento. Foi um encontro tenso, que ilustra quão duro podia ser Wojtyla com quem ousava contrariar suas posições. O diálogo está registrado no livro de Bernstein e Politi:


– A senhora sabe que este é o Ano da Família. Mas a mim parece ser o Ano da Desintegração da Família – foi logo dizendo o papa.


– Há diversos tipos de família no mundo – respondeu Nafis Sadik, pega de surpresa.


– Como a senhora pensa que as populações do mundo cresceram? Foi graças à família. Uma família é um marido, uma mulher e suas crianças. E o casamento é a única base de uma família. Os homossexuais e as lésbicas não são famílias – disparou João Paulo II, de dedo em riste.


No decorrer da conversa, o papa foi ficando cada vez mais zangado.


– Cerca de 200.000 mulheres morrem a cada ano no mundo, vítimas de abortos provocados por elas próprias. E seus parceiros não se sentem responsáveis por isso – afirmou Nafis.


– A senhora não acha que o comportamento irresponsável dos homens é causado pelas mulheres? – fuzilou o papa, praticamente encerrando a audiência. 
Aberta a conferência no Cairo, o Vaticano usou de todos os expedientes para angariar apoio em sua cruzada. Entre outras manobras, adiou votações com o objetivo de ganhar tempo e tentou fazer uma aliança com países islâmicos fundamentalistas. Nada funcionou. Os enviados de João Paulo II saíram derrotados, embora tivessem conseguido que a ONU reafirmasse, no documento final do evento, que o aborto não era um método contraceptivo aceitável. 

Na prática, porém, as Nações Unidas reconheceram a legitimidade do procedimento em inúmeros casos e recomendaram aos países em que ele é legalizado que o tornassem seguro.


Essa não foi a única ocasião em que João Paulo II deixou as feministas irritadas. Ele refutou com veemência a idéia de que fosse permitido às mulheres seguir uma carreira eclesiástica igual à dos padres, da mesma forma que acontece na Igreja Anglicana. Seu argumento teológico: o fato de os apóstolos de Jesus serem todos homens demonstra que elas não podem ter vocação sacerdotal. 


Ao mesmo tempo, João Paulo II foi o primeiro papa a abordar especificamente a questão feminina num documento (a carta apostólica Mulieris Dignitatem, de 1988). 

Além disso, muitos de seus pronunciamentos enfocaram a exploração profissional e sexual a que inúmeras mulheres são submetidas. Numa epístola de 1995, ele chegou a fazer uma espécie de mea-culpa. "Não poucos integrantes da Igreja impediram o progresso das mulheres no passado", escreveu.


O reacionarismo moral de João Paulo II, para usar uma expressão dos seus opositores, está bem sumariado no Lexicon, um dicionário de 900 páginas e 78 verbetes que chegou às livrarias italianas em abril de 2003. Organizado pelo Conselho Pontifício para a Família, um dos braços da Cúria Romana, o livro mostra o que a Igreja de João Paulo II pensa sobre aborto, contracepção, divórcio, homossexualidade e sexo seguro.


O capítulo mais assombroso é o que fala a respeito dos homossexuais. Diz que a homossexualidade é um "conflito psíquico não resolvido que a sociedade não pode institucionalizar" (ou seja, uma doença) e que o termo "homofobia" é "uma palavra criada por associações homossexuais para estigmatizar todos aqueles que se perguntam sobre o assunto e não aceitam a banalização e a 'normalização' da homossexualidade"

Por essas e outras – como a recomendação da abstinência sexual como a única forma de prevenção contra a Aids –, o Lexicon foi recebido como um monumento à intolerância. 



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Foi por causa dessa sua determinação em não agradar ao homem, e sim em agradar a DEUS que João Paulo II foi calado.

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